Doce vida
Toquinho – Francis Hime
Diga que dessa vez foi tudo intriga,
Conta a mentira mais antiga,
A do cinema com uma amiga,
Jura com as mãos fazendo figa,
Mas fica aqui do meu lado.
Eu juro, eu finjo que esqueço o passado.
Nem te pergunto mais nada,
Se você chega na calada
Com a pintura retocada,
Ligeiramente perfumada
Depois das três da madrugada,
E eu te esperando acordado
Fingindo fazer meu imposto atrasado.
Mas quando eu penso em teus doces carinhos,
Tua malícia, teus denguinhos,
Não dou bola aos burburinhos,
Deixo o vizinho falar.
Num segundo seu mundo é só meu.
Bem no fundo, seu dono sou eu.
Vem segunda-feira e a ladainha costumeira:
È dia de cabeleireira,
De massagista e costureira,
Ela ainda espalha que é solteira
E eu dando um duro dobrado,
Às vezes finjo que fico zangado.
Mas ela logo despista,
Vem me acusando de egoísta,
Que cismo à toa com o dentista,
Tenho ciúme do analista
E um amigo comunista.
E eu fico desconsolado
E finjo assim como quem deixa de lado.
Sou seu companheiro nos seus descaminhos,
Toda rosa tem espinhos,
Não dou bola aos burburinhos,
Deixo o vizinho falar.
Num segundo seu mundo é só meu.
Bem no fundo, seu dono sou eu.