Boca da noite
Toquinho – Paulo Vanzolini
Cheguei na boca da noite
E saí de madrugada.
Eu não disse que ficava,
Nem você perguntou nada.
Na hora em que eu ia indo
Dormia tão descansada.
Respiração tão macia,
Morena, nem parecia
Que a fronha estava molhada.
Vi um rosto na janela,
Parei na beira da estrada.
Cheguei na boca da noite,
Saí de madrugada.
Gente da nossa estampa
Não pede juras nem faz.
Ama e passa e não demonstra
Sua guerra, sua paz.
Quando o galo me chamou
Parti sem olhar pra trás.
Porque morena eu sabia,
Se olhasse não conseguia
Sair dali nunca mais.
O vento vai pra onde quer,
A água corre pro mar.
Nuvem alta em mão de vento
É o jeito da água voltar.
Morena, se acaso um dia,
Tempestade te apanhar,
Não foge da ventania,
Da chuva que rodopia,
Sou eu mesmo a te abraçar.